Há muitos anos atrás, lendo um livro de crônicas de Paulo Mendes Campos, em Paris, registrei essa pérola que ele escreveu sobre o que falou à sua filha Maria, ao lhe dar o livro Alice no País das Maravilhas .
Guardo sempre comigo, como um bem muito precioso e decidi compartilhá-lo contigo, querida sobrinha. Com certeza, vai enriquecer teu blog.
Com todo o carinho do teu Tio Carlos.
“ Toda pessoa deve ter 3 caixas para guardar humor: Uma grande para o humor mais ou menos barato que gente gasta na rua com os outros; uma caixa média para o humor que a gente precisa ter quando está sozinho, para perdoares a ti mesma , para rires de ti mesma; por fim, uma caixa preciosa, muito escondida , para as grandes ocasiões. Chamo de grandes ocasiões os momentos perigosos em que estamos cheios de sofrimento ou de vaidade, em que sofremos a tentação de achar que fracassamos ou triunfamos, em que nos sentimos umas drogas ou muito bacanas. Cuidado Maria com as grandes ocasiões. Ás vezes uma pessoa se abandona de tal forma ao sofrimento, com uma tal complacência, que tem medo de não sair dela. A dor também tem o seu feitiço, e este se vira contra o enfeitiçado. Por isso Alice depois de ter chorado um lago, pensava: “ agora serei castigada, afogando-me em minhas próprias lagrimas.”
Conclusão : A própria dor tem sua medida. É feio, é imodesto, é vão. É perigoso ultrapassar a fronteira da nossa dor