terça-feira, 17 de agosto de 2010

A igualdade dentro da hierarquia (autoria de Carlos Grassioli)

Falando em Nietzsche: "Como é agradável ouvir palavras e sons! Não serão as palavras e os sons os arco-íris e as pontes ilusórias entre as coisas eternamente separadas?"( Assim falava Zaratustra)

Caríssimas “almas pensantes”, ( em português também ficou bonito não?) todo o movimento ou gesto, que venha contribuir para preencher ou pelos menos diminuir os espaços , muitas vezes, abismos, que os tempos modernos insistem em criar entre as pessoas, priorizando a máxima perversa, “ eu cuido de mim e o resto que sifu”, é merecedor de aplausos.

Então tô nessa!

Hoje, vou contribuir com um pequeno trecho, que considero bem oportuno para o blog, sobre a questão da igualdade dentro da hierarquia, de um surpreendente livro, escrito por um maestro, que faz uma brilhante abordagem filosófica sobre a relação que a música tem com nossas vidas .

Leiam com calma e atenção...como se fosse música.

Porque pra mim, é música. Bom Proveito!

O movimento lento da sonata Patética de Beethoven abre com uma melodia relativamente simples. No entanto, quando o analisamos de perto, vemos que há uma voz principal que tece seu caminho através de todo o trecho e uma linha de baixo secundária que a acompanha, no melhor sentido da palavra - não simplesmente seguindo-a, mas subindo quando a melodia cai e vice-versa -, desse modo, conversando e influenciado-se mutuamente. Ao mesmo tempo, há uma voz mediana que proporciona uma sensação de continuidade e fluidez.

No último prelúdio do livro 1 de O Cravo bem temperado, de Bach, existem três vozes diferentes, cada uma disputando nossa atenção em momentos diferentes. As duas vozes superiores são igualmente importantes e seguras da sua importância, permitindo-lhes um diálogo entre iguais. A linha de baixo tem um movimento lento, contínuo, que possui uma função melódica muito menos importante, mas é capaz de influenciar o diálogo de duas vozes superiores por meio de mudanças harmônicas que forçam as vozes principais a estarem constantemente vigilantes.

Mesmo nas árias líricas de Bellini, Donizetti ou Verdi, nas quais fica claro que existe apenas uma voz principal cantando no palco e a orquestra meramente fornece o acompanhamento, é evidente que esse acompanhamento desempenha uma importante função rítmica e harmônica, influenciando e caracterizando claramente a linha da canção.

A hierarquia que existe em toda a música respeita a individualidade de cada voz, que pode não ter os mesmos direitos mas, certamente, tem a mesma responsabilidade como todas as outras vozes. Isso, naturalmente, é muito mais fácil de alcançar na música do que na vida; como é difícil criar, no mundo, igualdade dentro da hierarquia."
(Do Livro,” A música Desperta o Tempo” do Maestro de origem judaica - Daniel Barenboin que junto com um intelectual palestino, tiveram a idéia genial e ousada, de criar uma orquestra de jovens músicos árabes e israelenses e que viajou pelo mundo todo, fazendo o maior sucesso)

Carlos Grassioli

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